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quinta-feira, 3 de novembro de 2022

94 anos do Irmão André, fundador da Portas Abertas

 Nesta entrevista, precursor da Portas Abertas apontou novos desafios para a igreja global

No dia 11 de maio de 1928, nascia Anne van der Bijl, em Witte, Holanda. O menino era um dos seis filhos de um ferreiro e de uma dona de casa. Hoje, o garoto virou um homem que é destaque no mundo pela ousadia em dizer sim ao chamado de Jesus. Ele se tornou um pioneiro na missão de levar Bíblias e esperança a centenas de cristãos que vivem em países fechados para o evangelho.

A conversão de Anne aconteceu em 1950 e, cinco anos depois, passou a rodar pelos países comunistas com um fusca azul abarrotado de Bíblias para entregar aos cristãos locais. Foi nessa época que ele adotou o pseudônimo Irmão André, como é conhecido mundialmente hoje. Em uma viagem que fez pela Alemanha Oriental, um pastor o comparou ao José do Egito que procurava os irmãos a pedido de Jacó.


“Hoje ainda procuro meus irmãos e irmãs do mundo inteiro que sofrem por causa da fé — não só porque eles precisam de mim, mas porque eu preciso deles. Todos fazemos parte da mesma fraternidade de cristãos, que a Bíblia chama de corpo de Cristo. Precisamos uns dos outros. Todos somos chamados a realizar a obra de Deus — juntos”, explica o fundador da Portas Abertas.


O que aconteceu com o Irmão André após a queda do regime soviético?

Com a criação da Portas Abertas, a principal missão do Irmão André e de outros parceiros era levar encorajamento para os cristãos que viviam no Leste Europeu e na União Soviética. Mas, com a queda do Muro de Berlim e fim da Guerra Fria e do Império Soviético, novos objetivos foram traçados.


“Assim, com a abertura oficial do bloco soviético, nós deslocamos uma parcela maior de nossos recursos para outras regiões onde a igreja sofre nas mãos de governos opressores, especialmente no mundo muçulmano”, justifica o líder cristão. Muitos países mudaram, mas a missão continua a mesma: “Fortaleça o que resta e que estava para morrer”, Apocalipse 3.2.

O Irmão André viu com os próprios olhos as consequências das guerras no Oriente Médio e fortaleceu irmãos na região


O despertamento do Irmão André para o mundo muçulmano aconteceu quando um pastor do Irã o convidou para visitar o país, após uma conferência, no fim da década de 1970. O fundador da Portas Abertas achava que não havia igrejas em países islâmicos.

Qual foi o primeiro país muçulmano a ser visitado pelo Irmão André?

Em 1981, o Irmão André desembarcava no Irã, enquanto acontecia a guerra entre o país e o Iraque. O caos em Teerã já começava no aeroporto, quando centenas de pessoas aguardavam horas pela bagagem e “brigavam, berravam e xingavam-se de tão irritadas”. O clima de desordem e tensão continuou por todo o caminho até a igreja. “Dentro da igreja havia uma pequena livraria onde se viam exemplares de O Contrabandista de Deus, recentemente publicado na língua persa”, relembra o Irmão André.


Pela desorganização do país, aquela igreja pôde usar a mesma licença cinco vezes para imprimir mais Bíblias e mais muçulmanos passaram a frequentar os cultos e ouvir sobre o amor de Jesus. Depois daquela visita, os olhos do Irmão André e da Portas Abertas se abriram sobre os problemas das igrejas em contexto muçulmano. Então, pequenos projetos começaram a ser financiados para o fortalecimento dos cristãos no Irã.


Irmão André encontra o pastor Haik Hovsepian do Irã e conhece melhor a história de fé do líder cristão


Em 1993, o Irmão André participou como palestrante de uma conferência de pastores no Paquistão e lá conheceu o pastor iraniano Haik Hovsepian. “Fiquei extremamente impressionado com o fervor desse irmão e com os desafios que ele lançava. Uma coisa é palestrar sobre perseguição e sofrimento com base em um conhecimento livresco; outra bem diferente é ensinar com base na experiência pessoal”, relembra o Irmão André no livro “O Contrabandista de Deus - desafiando os limites da fé”.

Por que o Irmão André considera o islã como o maior desafio da igreja atual?

Algum tempo depois, o pastor Haik Hovsepian desapareceu enquanto se dirigia ao aeroporto de Teerã para buscar um amigo, ele tinha sido sequestrado e morto. O Irmão André acredita que o islã representa o maior desafio da igreja hoje. Não por causa de sistemas políticos ou econômicos, mas porque os cristãos não têm a mesma dedicação, determinação e força de muitos grupos muçulmanos. Falta um compromisso radical dos seguidores de Jesus que seja nítido na maneira como vivem.


“Por esse motivo, venho dedicando o resto de minha vida ministerial a estes dois objetivos: ir aos muçulmanos em nome de Jesus, e fazer o que posso para fortalecer a igreja do mundo muçulmano. De fato, é o que sempre fiz, mas como estou agora concentrado em um grupo que parece ser absolutamente fechado aos cristãos, sinto-me como se tivesse começado uma carreira totalmente nova”, conclui.

Como é possível fortalecer as igrejas em países muçulmanos e alcançar mais seguidores para Jesus?

Segundo o Irmão André, o medo e a postura que os cristãos tiveram em relação à União Soviética fizeram com que as pessoas fossem vistas como “terríveis e perversos comunistas”. Esse sentimento os levou a serem vistos como inimigos e adiou por tanto tempo a queda do sistema. Quando, na verdade, o único inimigo dos cristãos é o diabo.


Irmão André conversa com um refugiado afegão em uma das viagens que fez ao Paquistão


“Hoje, muitos de nós imaginamos os muçulmanos como inimigos. São todos terroristas que sequestram nossos aviões, explodem nossas embaixadas e tomam pessoas inocentes como reféns. Isso não é falso, mas enquanto os enxergarmos dessa forma não será possível levar o evangelho a eles. Deus não pode nos usar assim”, finaliza.

O que chamou a atenção do Irmão André para o continente africano?

A primeira vez que Deus chamou a atenção do Irmão André para a África foi em uma igreja batista na cidade búlgara de Sofia. Ele estava ministrando lá há muitos anos quando um homem de Moçambique conversou com ele após um culto. Nos anos seguintes, enquanto Irmão André viajava pela Europa, conheceu outros estudantes africanos em cidades universitárias do Leste Europeu. E em todas as conversas, a mensagem era sempre a mesma: “Faça algo pela África enquanto houver tempo, antes que as portas se fechem”.

Ao visitar o continente, qual a percepção do Irmão André?

O Irmão André pregou em diversos países como Malaui, Tanzâna, QuêniaEtiópia e África do Sul. Em todos esses lugares, havia uma fome pela palavra e os africanos se identificavam facilmente com a mensagem da Igreja Perseguida.

Irmão André realiza entrevista durante a viagem para a conferência Love Africa no Quênia, em 1978


“Havia uma sensação de uma tempestade que se aproximava rapidamente, das perseguições que viriam, um sentimento de que a África poderia ser a próxima, que as histórias dos sofrimentos europeu e asiático poderiam ser contadas cada vez mais a respeito dos cristãos africanos nos anos vindouros.”

Qual o objetivo do Irmão André ao começar o trabalho na África?

O Irmão André entendia que Deus queria que os cristãos da África se preparassem para o que viesse, edificando a igreja de forma a sobreviver, independente do que enfrentasse. Para isso, ela deveria ser edificada sobre a Bíblia. Não apenas uma igreja cultural, mas sim, uma que vibre com sua própria visão de Cristo, como resultado de sua busca às Escrituras.


A conferência Love Africa, em 1978, foi um momento importante na história da Portas Abertas e ajudou no início do
ministério no continente africano


No início do ministério na África, o principal desafio era obter Bíblias, afinal, até os anos 1970, mais da metade da população africana não tinha acesso a nenhuma parte das Escrituras em sua língua.

Onde o Irmão André mora e como está o trabalho da Portas Abertas?

Hoje, o Irmão André vive na Holanda sob os cuidados dos cinco filhos e 11 netos. E a Portas Abertas está presente em mais de 60 países fortalecendo a Igreja Perseguida por meio de projetos que envolvem distribuição de Bíblias e literatura cristã, treinamentos, ajuda socioeconômica e ações institucionais (consultoria jurídica, pesquisa e presença).

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