A igreja deve ou não estar no metaverso? Pastores ponderam as oportunidades e ameaças da tecnologia.
Para a maioria das pessoas, metaverso é uma palavra nova, que passou a ser mais conhecida depois que Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome da empresa Facebook, que agora se chama Meta.
Esta semana, a tecnologia se tornou um assunto novo também no meio cristão. Nesta quarta-feira (13), o pastor André Valadão estreou a primeira igreja brasileira no metaverso — a Lagoverso, desenvolvida pelo ministério de jogos digitais da Lagoinha Orlando Church.
Valadão anunciou que mais de 150 avatares entraram na igreja virtual e pelo menos 10 foram à frente e entregaram a vida para Jesus.
Mas o que exatamente é o metaverso e como a igreja deve lidar com o futuro da internet?
O metaverso nada mais é do que um “mundo digital”, que combina elementos da realidade virtual, realidade aumentada e internet. Ao entrar no universo virtual, cada pessoa escolhe um avatar para viver uma vida semelhante à real: se relacionar com pessoas, fazer compras, ir a shows, viajar ao redor do mundo e até mesmo ir à igreja.
Em entrevista ao Guiame, o pastor André Valadão disse que a igreja precisa estar presente onde as pessoas estão. “Atrás de um avatar é um ser humano e precisamos chegar em todos”, explicou.
Ele esclarece que a atuação da igreja no metaverso não substitui o papel fundamental dos templos físicos. “Assim como o alimento é insubstituível, o relacionamento humano nunca será substituído”, destacou.
Em julho de 2021, durante uma conferência virtual com grupos religiosos, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, falou sobre a expectativa do envolvimento das igrejas na tecnologia.
“Nossa esperança é que um dia as pessoas também façam cultos nos espaços de realidade virtual ou usem a realidade aumentada como uma ferramenta de educação, para ensinar a seus filhos a história de sua fé”, disse Sandberg.
“Uma maneira de alcançar pessoas”
Nos Estados Unidos, a Life.Church, liderada pelo pastor Craig Groeschel (que desenvolveu o aplicativo da Bíblia YouVersion), tem sido uma líder em inovação entre as igrejas americanas.
Já em 2007, a Life.Church estudava como seria a igreja na realidade virtual. Não foi surpresa quando, em dezembro do ano passado, a igreja adicionou um campus no metaverso.
“Esta não é a primeira vez que realizamos cultos no metaverso. Em 2007, realizamos cultos no Second Life, que era um ambiente virtual 3D semelhante ao que você vê hoje no metaverso”, disse o pastor e líder de inovação da Life.Church, Bobby Gruenewald, ao site The Christian Post.
Gruenewald disse que se deparou com críticas, mas sustenta que a presença de igrejas no metaverso é válida. “Existem benefícios únicos para a igreja nos espaços digitais. É uma maneira de alcançar pessoas que talvez nunca ponham os pés em uma igreja física”, disse ele.
André Valadão defende o mesmo e lista alguns cuidados que a igreja deve ter para se manter bíblica, mesmo no metaverso: “Pregar a Palavra, apontar para Jesus e buscar usar todas as ferramentas que temos em nossa geração para falar de Jesus”.
Valadão também acredita que os cristãos devem “evitar julgar e criticar algo que sequer conhecem, para não passar vergonha como a Igreja já passou, falando de instrumentos como bateria, guitarra, televisão e por aí vai.”
Gruenewald também faz uma relação a questionamentos feitos no passado. “Quando o telefone foi inventado, havia a preocupação de que ninguém ia mais se reunir ou sair de casa. Esses argumentos existem há décadas, mas não se sustentam. Se o isolamento dos últimos dois anos nos ensinou alguma coisa, é que temos um desejo inerente do ser humano de estarmos juntos”, avaliou.
O pastor da Life.Church acredita ainda que, no ambiente online, muitas pessoas se sentem mais à vontade para expor suas vulnerabilidades. “A fachada física de um avatar dá às pessoas uma sensação de anonimato, que as ajuda a se sentirem mais à vontade para baixar a guarda. Elas vão falar sobre suas lutas contra a depressão, dificuldades em seu casamento e outros detalhes íntimos de sua vida, que as pessoas geralmente não falam tão facilmente em um ambiente físico.”
Mas nem todo líder cristão está animado com a participação da Igreja na evolução da tecnologia online.
Oportunidades e ameaças
No site The Gospel Coalition, o pastor Patrick Miller, que supervisiona ministérios digitais na igreja The Crossing, fez uma crítica à inserção da igreja no metaverso. Ele escreveu um artigo com Ian Harber, o diretor de comunicação de uma ONG no Texas.
Para eles, o metaverso pode apresentar oportunidades, mas também ameaças. A primeira delas é uma possível crise de identidade.
“Se você já acha que a sociedade luta com questões de identidade agora, se prepare”, disseram. “As pessoas podem começar a confundir sua identidade dada por Deus com a identidade auto-criada no metaverso. O debate sobre o transumanismo está à nossa porta.”
Os críticos também alertam sobre o risco de as pessoas tirarem os seus olhos da Criação de Deus.
“Jesus chama seus seguidores para cuidar dos doentes, visitar os solitários, fortalecer os oprimidos e cuidar do meio ambiente. Sabemos que um mundo virtual criado por empresas de capital aberto nunca será mais real ou importante do que o mundo que Deus criou e chamou de ‘muito bom’”.
Por fim, ambos os líderes temem que o metaverso se transforme em uma “torre de Babel” do futuro. “Nossa torre de Babel futurista está nos atraindo com promessas de infinitude”, afirmam.
“Teremos a oportunidade de experimentar vislumbres do poder que só Deus tem. A prontidão da informação vai nos dar um vislumbre de ser onisciente. A capacidade de criar mundos e identidades vai nos dar um vislumbre de ser onipotente. A conquista das fronteiras geográficas vai nos permitir estar onde quisermos a qualquer momento, nos aproximando da onipresença”, eles argumentam.
Fonte: Guiame
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