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terça-feira, 1 de maio de 2012

Causas e efeitos do sofrimento


Em princípio, ninguém quer sofrer, exceto os masoquistas. O normal é que se tente evitar o sofrimento, mas a verdade é que nem sempre conseguiremos.

Se alguém lhe disser que a conversão é o fim dos sofrimentos, não acredite. Alguns terminam e outros começam. É o que acontece, por exemplo, com um desempregado que se alistou no exército. Seus problemas acabaram? Alguns sim, mas outros estão apenas começando. Entretanto, é uma troca que vale a pena. Seu sofrimento agora é por uma causa nobre. 

“Suporta comigo as aflições como bom soldado de Jesus Cristo.” (2Tm 2.3.)  

Não podemos acreditar em um tipo de evangelho triunfalista, como se a vida cristã fosse só alegria, como se toda tribulação fosse imprópria para os filhos de Deus. Um soldado precisa enfrentar treinamento e batalhas para que possa ser vitorioso. Se ele viver sempre em estado de descanso e paz, será inútil em relação ao seu papel e missão.

Os sofrimentos da vida podem ser úteis. Um exemplo é a dor física. A capacidade de sentir dor é muito importante para a nossa sobrevivência. A insensibilidade torna-se um risco muito grande e pode caracterizar grave doença.  Diante de vários perigos, a dor serve como alerta para nos proteger de maiores danos.

Os sofrimentos fazem parte da vida, do nascimento à morte, mas isto não significa que deixaremos de ter muitos momentos de alegria e prazer. 

As causas do sofrimento podem ser diversas. Não temos a pretensão de esgotar o assunto, mas apenas analisar alguns aspectos. Podemos sofrer pelo pecado, próprio ou alheio, até mesmo de pessoas desconhecidas. Não estou falando de castigo divino, mas de consequências compartilhadas. Se alguém se embriaga e bate o carro, muitos podem ser prejudicados sem culpa. Isto acontece em diversas áreas da nossa vida.

Os erros dos pais podem afetar os filhos de forma direta e duradoura. Não estamos nos referindo a maldições hereditárias, mas efeitos naturais herdados.  

O sofrimento pelo pecado é degradante e pode ser evitado na medida em que se evita a transgressão.  Esse tipo de padecimento é minimizado com a conversão e a obediência à palavra de Deus. 

“Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.” (1Pe 4.15-16.)

Outra espécie de sofrimento é aquele relacionado ao crescimento ou desenvolvimento. Um exemplo é a dor provocada pelos exercícios físicos. Se não dói (dentro de certos limites), não é útil, pois não está conduzindo à superação dos limites já conhecidos. Assim acontece em vários aspectos da vida. Para crescer precisamos nos esforçar e isto pode causar algum tipo de sofrimento, inclusive pela necessária renúncia ao estágio anterior.

É comum que procuremos alguma causa meritória para o sofrimento. Chegamos a dizer: “O que eu fiz para merecer isto?” Muitas vezes não merecemos, mas precisamos. É importante percebermos desta forma muitas coisas que nos sobrevêm. José do Egito sofreu muito, não por merecer, mas pelo fato de estar sendo treinado por Deus para governar aquele país. Jó sofreu, não por merecer, mas por uma permissão de Deus. Jesus sofreu muito, não por merecer, mas para que muitos fossem salvos. Paulo também sofreu (At.9.16; 2Co 11.23-28), mas ele via tudo isso de forma positiva, conforme lemos em Romanos 5: 

“E não somente isso, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança.” (Rm 5.3-4.) 

A paciência não é adquirida por meio de teorias. Não basta fazermos um curso ou recebermos uma ordem: seja paciente! Ela é resultado de árduo treinamento, como acontece com diversas habilidades que precisamos adquirir e aperfeiçoar.

Assim como os exercícios físicos desenvolvem os músculos, as tribulações produzem em nós virtudes que, de outro modo, não teríamos (Hb 5.8).  

O Salmista reconheceu: “Antes de ser afligido, eu andava errado; mas agora guardo a tua palavra... Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos.” (Sl 119.67,71.)

Quem foge diante da menor ameaça de sofrimento, jamais desenvolverá resistência. É o que acontece com quem toma remédios diante da primeira dor ou nos primeiros minutos de febre. Suportar por algum tempo faz com que o organismo desenvolva e utilize mecanismos de defesa.  Quem se recusa a carregar qualquer peso ficará cada vez mais fraco e incapaz.

Quem foge diante de um sofrimento necessário pode ser confrontado depois com outro pior, inevitável e insuportável (Jr 48.11-12).

Durante algum tempo, Deus permite que enfrentemos solidão (Lm 3.26-28), humilhação (Dt 8.3), aflição (João 16.33), doença, problemas financeiros, para o nosso próprio crescimento. Refiro-me àquelas situações que não provocamos. Não fiquemos decepcionados se o Senhor não nos der o alívio imediato que gostaríamos. Existe um tempo apropriado para tudo isso.  Marta e Maria esperavam que Jesus chegasse a tempo para curar Lázaro, mas ele chegou quatro dias depois do seu sepultamento (João 11). Com Jesus, grandes problemas são oportunidades para grandes milagres.  

MOTIVOS OU OBJETIVOS?

Diante de um sofrimento podemos olhar para trás, examinando nossa consciência, para vermos se pecamos, mas podemos também olhar para frente, procurando vislumbrar um propósito divino para aquela situação. Mesmo se não conseguirmos discernir, devemos descansar no amor de Deus, sabendo que nossas vidas estão sob o seu controle.

Podemos sofrer também por causa da perseguição, como Jesus e os apóstolos sofreram. Eles não conheceram um evangelho “água com açúcar” que só oferece dinheiro, saúde, prosperidade e alegria.

Seja qual for o sofrimento que enfrentarmos na vida, será oportunidade de aprendermos alguma coisa, se sobrevivermos. Aprendamos, pois.

Porém, isto não significa que vamos buscar o sofrimento com nossas próprias mãos, mas vamos suportar sem murmurações nem blasfêmias aquelas lutas que Deus permitir. O que pudermos evitar, evitaremos; desde que isso não custe a renúncia do nosso compromisso com Deus e dos valores éticos cristãos.

Jesus poderia ter evitado a cruz, mas ele a aceitou porque sabia que o seu sofrimento não seria em vão.  Jesus poderia ter descido da cruz a qualquer momento, mas suportou a dor até o fim.

Foi ele mesmo quem disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23).

Como disse Paulo, sabemos que “as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).

::Pr.Anísio Renato de Andrade